segunda-feira, agosto 15, 2011

Never Mind The Bollocks*


"Ave, Amy. Never mind the bollocks. E, por favor, NÃO descanse em paz. Imagino que descansar em paz não seja mesmo o seu ideal de uma eternidade perfeita.
Não sei como vivem os mortos – se é que vivem, visto que estão mortos – , mas se você por acaso estiver ouvindo ou lendo tudo que estão dizendo e escrevendo sobre você por aqui, deixe que as palavras entrem por um ouvido e saiam por outro. Todas essas explicações que não explicam nada, o esmiuçamento obsceno da tua vida, essas teorias enigmáticas e sem sentido sobre rock stars que morrem aos 27 anos de idade, a avidez da mídia em sugar você até a última gota, a cafonice das homenagens póstumas.
Perdoe-nos, isso não deixa de ser uma forma de demonstrar carinho e um desespero pela tua ausência. A questão da existência é mesmo complicada, você sabe, tanto para os vivos quanto para os mortos.
Continue, por favor, a inspirar os jovens artistas com a sua irreverência e a sua recusa em se transformar numa cantora domesticada, dessas que fazem média com todo mundo e entretém a plateia como se tudo fosse uma questão de levantar os braços pra cima e bater palmas todo mundo cantando junto. Continue nos ensinando que a vida é mesmo incontrolável e sem sentido.
Agora, sinta-se à vontade para não considerar nenhuma das bobagens que escrevo aqui. Só peço que você NÃO pare de cantar. Sei que isso talvez seja difícil, ou mesmo impossível, para um morto. Então toda vez que ouvir uma música sua, vou fingir que você está vivinha da silva.
Aqui em casa diremos às crianças – como se diz sempre que morre um parente, um amigo ou animal querido – que você foi fazer uma longa viagem e que não sabemos quando volta."
*Escrito por Tony Bellotto via Cenas Urbanas