Em 2003, William Bonner disse ao Fazendo Media na TV: "Temos que mostrar, em 30 minutos, o que aconteceu de mais importante no Brasil e no mundo". Se perguntarmos a outros editores, é provável que digam o mesmo. Gostaria de levantar um exemplo que talvez deixe os mais bem pagos jornalistas do Brasil em maus lençóis. Refiro-me à Fórmula 1 e à Fórmula Indy. Ambas as competições são internacionais. Ambas possuem brasileiros disputando as primeiras posições. Ambas possuem praticantes no país. Mas... Por que os telejornais da Globo só noticiam a Fórmula 1 e omitem completamente a Fórmula Indy? E por que a Bandeirantes faz justamente o contrário? Se um cidadão hipotético se informa exclusivamente pela Globo, ele simplesmente não tomará conhecimento da Fórmula Indy - mesmo que esta seja uma competição real, que envolva milhares de pessoas no mundo inteiro e que seja assistida por milhões de pessoas no mundo. O mesmo vale para o telespectador hipotético que só assiste à Band: ele simplesmente vai desconhecer a existência da Fórmula 1. E aí, como fica a conversa de "mostrar o que aconteceu de mais importante"? Quais são os critérios para estabelecer o que é mais importante? Essa é uma discussão que as escolas e universidades deveriam promover, bem como os (poucos) programas destinados a criticar a imprensa. Como o exemplo do automobilismo, há outros. Muitos outros.
*Marcelo Salles - colunista do blog Fazendo Média