Infelizmente Jaime Gil da Costa, o Gil Brother, não tem GPS. “O cara grava aqui em São Paulo, volta para Petrópolis e sempre perde o celular. Sinto muito, não tenho como dar o contato dele” diz por telefone Fausto Fanti, titular absoluto do humorístico da MTV “Hermes e Renato” sobre seu contratado mais exótico. Resta pegar o ônibus rumo à cidade serrana do Rio de Janeiro, terra da Família Real e de Santos Dumont, e tentar a sorte.
Gil é um case de sucesso bizarro - e relativo: não é tão fácil quanto se imagina achar o ex-lavador de carros que virou comediante na pequena Petrópolis. Nenhum taxista na rodoviária sabe do que se trata (”Herpes e Renato”?), e quem consegue o endereço da figura (em Espártaco Banal, fora dos limites da cidade) é um rapaz no Centro de Informações Turísticas - só porque sua tia é vizinha.
Quando finalmente encontro o Brother em sua modestíssima casa (três cômodos, nenhum móvel intacto), ele explica: “Porra! Poucos me conhecem aqui porque negozinho tem que pagar duzentos conto pra ter MTV. Aqui é tudo assalariado, mas se você pergunta do Gil Brother pros bacanas eles sabem tudo”. E o que há pra saber sobre o Brother? Ele foi descoberto pelos caras do “Hermes e Renato” lavando carros e imitando James Brown - é egresso do movimento Black Rio nos anos 70, um excelente dançarino - e aproveitado no esquete “Mataram meu passarinho”, onde lançou o bordão “Away!” que lhe valeu o segundo nome artístico: Away (escreve “Auê” nos autógrafos) de Petrópolis. O ano, 2003.
A partir daí, mais bordões viriam: “tua cara tá derretendo”, “seu pinto tá um cotoco”, “vou rasgar a sua boca”, todos consagrados no quadro “Drops Away News”, em que comentava tópicos como o uso de anabolizantes e pedofilia, sempre com uma faca na mão, prometendo vingar as mazelas da sociedade. Hit instantâneo, campeão de buscas na internet, Away se gaba: “Porra, eu não posso nem andar a pé em São Paulo, morou? É igual ao Michael (Jackson, presumido), uma correria do caralho, dou autógrafo, tiro foto, o personagem está bombando!”
Que personagem? Fica evidente que o maior trabalho da direção do programa com o Away é ligar a câmera. Aos 51 anos, fala e se comporta como o doidão da tela, com a desvantagem, para o repórter, da chuva de perdigotos na experiência ao vivo: “Eu que escrevo os roteiros, eu atôo (sic), eu apresento! O artista aqui é bom!”. Gil fica satisfeitíssimo com a entrevista para a Rolling Stone: “É um passo para a fama internacional (gargalhada sinistra)!” e prova adorar o reconhecimento - apesar de ter sido surpreendido pela chegada sem aviso da reportagem, tira do bolso (!) uma edição já amarelada do Jornal do Brasil com um artigo sobre seu sucesso.
E esse sucesso dá dinheiro? “As pessoas que tão fora acham que é mar de rosa, só na festividade, comendo as mulher por hora, gramour (sic)… mas você sabe que artista não ganha muito”, manda o Brother, que investe seu dinheiro na casa - nenhuma evidência aparente - e guarda algum “na caixinha lá”. Tem uma grande bronca da concorrência, a quem acusa de imitar seu novo programa na MTV, “A cozinha do Away”, onde ensina a fazer pratos como o Docinho de Talco e o Estrombelete de Cabeça de Sardinha. “Outro dia na Bandeirantes tinha uma mulher fazendo igualzinho! Faz a tua idéia, morou?!”. Gil acha que se outros programas humorísticos - citou nominalmente Casseta & Planeta - passassem no horário da “Cozinha”, iam levar um traço de audiência na testa.
O que o Away acha de ser colega de profissão do Chico Anysio? “Eu estive batendo um papo com o empresário dele quando o Chico veio fazer um show em Petrópolis e o cara queria puxar assuntozinho de eu ir pra Globo”. O Brother se exalta como se estivesse no esquete em que diz que vai dar soco no coração dos pedófilos: “Maluco, só se a Globo me pagar caro, morou? Pra ficar nisso mesmo eu fico lá onde eu estou. A Globo é uma parada de peidão! Televisão de velho, porra, como é que pode a gente já no ano 3000 e eles fazendo uma televisão dos anos sessenta? A juventude quer ação! O jovem quer pular, o jovem quer ver porrada, o jovem não quer amorzinho, o jovem quer violência!