quarta-feira, outubro 21, 2009

Gil Brother - O "Away" de Petrópolis

A primeira vez que eu vi o Gil Brother foi no Hermes e Renato, da MTV. Achei o cara muito engraçado e percebi na hora que era uma espécie de stand-up sem roteiro nenhum....cabuloso! Já era fã do cara, depois dessa entrevista feita pela Rolling Stones, em que ele fala mal da Globo, virou meu ídolo por uns dias(...)

Infelizmente Jaime Gil da Costa, o Gil Brother, não tem GPS. “O cara grava aqui em São Paulo, volta para Petrópolis e sempre perde o celular. Sinto muito, não tenho como dar o contato dele” diz por telefone Fausto Fanti, titular absoluto do humorístico da MTV “Hermes e Renato” sobre seu contratado mais exótico. Resta pegar o ônibus rumo à cidade serrana do Rio de Janeiro, terra da Família Real e de Santos Dumont, e tentar a sorte.

Gil é um case de sucesso bizarro - e relativo: não é tão fácil quanto se imagina achar o ex-lavador de carros que virou comediante na pequena Petrópolis. Nenhum taxista na rodoviária sabe do que se trata (”Herpes e Renato”?), e quem consegue o endereço da figura (em Espártaco Banal, fora dos limites da cidade) é um rapaz no Centro de Informações Turísticas - só porque sua tia é vizinha.

Quando finalmente encontro o Brother em sua modestíssima casa (três cômodos, nenhum móvel intacto), ele explica: “Porra! Poucos me conhecem aqui porque negozinho tem que pagar duzentos conto pra ter MTV. Aqui é tudo assalariado, mas se você pergunta do Gil Brother pros bacanas eles sabem tudo”. E o que há pra saber sobre o Brother? Ele foi descoberto pelos caras do “Hermes e Renato” lavando carros e imitando James Brown - é egresso do movimento Black Rio nos anos 70, um excelente dançarino - e aproveitado no esquete “Mataram meu passarinho”, onde lançou o bordão “Away!” que lhe valeu o segundo nome artístico: Away (escreve “Auê” nos autógrafos) de Petrópolis. O ano, 2003.

A partir daí, mais bordões viriam: “tua cara tá derretendo”, “seu pinto tá um cotoco”, “vou rasgar a sua boca”, todos consagrados no quadro “Drops Away News”, em que comentava tópicos como o uso de anabolizantes e pedofilia, sempre com uma faca na mão, prometendo vingar as mazelas da sociedade. Hit instantâneo, campeão de buscas na internet, Away se gaba: “Porra, eu não posso nem andar a pé em São Paulo, morou? É igual ao Michael (Jackson, presumido), uma correria do caralho, dou autógrafo, tiro foto, o personagem está bombando!”

Que personagem? Fica evidente que o maior trabalho da direção do programa com o Away é ligar a câmera. Aos 51 anos, fala e se comporta como o doidão da tela, com a desvantagem, para o repórter, da chuva de perdigotos na experiência ao vivo: “Eu que escrevo os roteiros, eu atôo (sic), eu apresento! O artista aqui é bom!”. Gil fica satisfeitíssimo com a entrevista para a Rolling Stone: “É um passo para a fama internacional (gargalhada sinistra)!” e prova adorar o reconhecimento - apesar de ter sido surpreendido pela chegada sem aviso da reportagem, tira do bolso (!) uma edição já amarelada do Jornal do Brasil com um artigo sobre seu sucesso.

E esse sucesso dá dinheiro? “As pessoas que tão fora acham que é mar de rosa, só na festividade, comendo as mulher por hora, gramour (sic)… mas você sabe que artista não ganha muito”, manda o Brother, que investe seu dinheiro na casa - nenhuma evidência aparente - e guarda algum “na caixinha lá”. Tem uma grande bronca da concorrência, a quem acusa de imitar seu novo programa na MTV, “A cozinha do Away”, onde ensina a fazer pratos como o Docinho de Talco e o Estrombelete de Cabeça de Sardinha. “Outro dia na Bandeirantes tinha uma mulher fazendo igualzinho! Faz a tua idéia, morou?!”. Gil acha que se outros programas humorísticos - citou nominalmente Casseta & Planeta - passassem no horário da “Cozinha”, iam levar um traço de audiência na testa.

O que o Away acha de ser colega de profissão do Chico Anysio? “Eu estive batendo um papo com o empresário dele quando o Chico veio fazer um show em Petrópolis e o cara queria puxar assuntozinho de eu ir pra Globo”. O Brother se exalta como se estivesse no esquete em que diz que vai dar soco no coração dos pedófilos: “Maluco, só se a Globo me pagar caro, morou? Pra ficar nisso mesmo eu fico lá onde eu estou. A Globo é uma parada de peidão! Televisão de velho, porra, como é que pode a gente já no ano 3000 e eles fazendo uma televisão dos anos sessenta? A juventude quer ação! O jovem quer pular, o jovem quer ver porrada, o jovem não quer amorzinho, o jovem quer violência!