quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Ah, a Globo*

Agora estou trabalhando na Globo - com um contrato provisório, é verdade - e sofro a mesma intolerância que suportaram outros baluartes da esquerda remediada, portadores do crachá maldito como Jorge Amado, Mário Lago e Geraldinho Carneiro. É só observar os comentários das últimas colunas, em que confesso a fraqueza de acompanhar o Big Brother - e em vez de receber solidariedade pela perda de massa encefálica, leio acusações de fazer propaganda das atrações da emissora.

Como não tenho hábito de ver TV e praticamente tive que ser apresentado à programação da minha contratante para poder escrever paródias que fizessem algum sentido, fiquei magoadinho. Realmente acho que a Globo consegue se virar sem o meu humilde apoio, que só hipotecaria com segundas intenções se estivesse sendo pago para isso.

Assistir a um programa em série é um desvio tão grave na minha rotina que já apresento sinais de perturbação típicos de quem está se acostumando com um fuso horário diferente. Dito isto, afirmo: muito antes de ser contratado, já estranhava quem acha a Globo a Raiz de Todo o Mal. Não porque não seja, sou um reles empregado e nada sei das instâncias superiores para opinar, mas porque essa obsessão com a Vênus Platinada geralmente diz mais sobre o sujeito que manifesta sua ojeriza do que sobre o Status Quo desta combalida nação.

Primeiro, porque a bronca parece recair exclusivamente sobre a empresa, poupando emissoras com mitos de origem parecidos e práticas administrativas afins - tanto é que a aproximação de qualquer uma delas no Ibope gera comemorações mil. Depois, porque parece uma reação que paternaliza os pobres telespectadores desavisados que insistem em assistir ao canal - quando via militantes na Candelária cantando que “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”, pensava: “então o povo são esses duzentos manifestantes e não os 85% de share que vêem Roque Santeiro…”

Talvez assista à próxima versão de “A fazenda” para provar que ainda sou um livre pensador e que é um mito essa idéia de que, além de assinar os termos de compromisso de praxe, seus empregados sejam obrigados a repercutir a grade - ou se submeter voluntariamente a lavagem cerebral. Boa noite.

*Escrito por Arnaldo Branco