Sempre tive boas referências sobre o jornal Folha de São Paulo, da família Frias. Há cinco anos atrás iniciei uma leitura quase diária da FSP devido a assinatura que meu pai obteve. E logo começei a tecer elogios demasiados sobre a pluralidade da publicação, a qualidade de seus colunistas e colaboradores (Clóvis Rossi, Cony, Rui Castro, Luis Nassif, Janio de Freitas, entre outros) e sua capacidade de apuração de fatos relevantes. Não demorou muito, num ritual que se repetia todas as manhãs, abri a FSP e me deparei com um editorial, ou seja a opinião do jornal sobre o que chamou de "Ditabranda". Segundo esse editorial da Folha, se o número de mortos nos anos de chumbo forem comparados com outras ditaduras instaladas na América Latina, o regime militar brasileiro "apresentou níveis baixos de violência política e institucional". Usar o termo "Ditabranda" no editorial de um jornal como a Folha (notadamente facista, conservador e, infelizmente, um dos mais lidos no país) por si só, já é um descalabro. Agora se pautar pelo número de mortos para definir um regime autoritário, genocida e truculento como foi o de 64 é um afrontamento sem prescedentes no jornalismo recente. Se é que dá para chamar "isso" de jornalismo. Usando esses padrões, podemos afirmar então que o genocídio de 6 milhões de judeus foi "light" perto dos 20 milhões exterminados por Stálin na antiga URSS. Só para constar nos autos, os dois colunistas da Folha que se manifestaram contrários ao editorial foram sumariamente demitidos (Fábio Konder Comparato e Maria Victória Benevides). E a caça as bruxas começou à algum tempo. O renomado jornalista Alberto Dines, foi demitido por motivos banais em 99, pois apontou a Folha de ser malufista, de vender seu parque gráfico aos americanos (minando a sua já capenga imparcialidade) e reciclar o falido Folha da Tarde por um jornal chamado Agora, com um viés mais comercial/parcial, dando sobrevida a um modelo de jornalismo mais rentável porém, abominável. Todos os fatos citados acima foram confirmados pela administração do jornal. Praticamente não existem mais jornais no Brasil que emitem sua opinião sobre os assuntos em pauta, todos repassam informações de fontes questionáveis, tem medo de se posicionarem e assistirem seus anunciantes debandarem rumo ao concorrente um pouco mais brando (principalmente em assuntos políticos). A censura jornalística cresce e está em vias de imperar soberana. Reside no fim do túnel uma luz chamada internet, que permite botarmos a boca no trombone sem sermos navalhados por um empresário que se diz jornalista. É o começo do fim.
*Link da carta resposta de Alberto Dines a Otávio Frias Filho
**Link da carta publicada no jornal revelando a indignação de Fábio Comparato e Maria Benevides
*Link da carta resposta de Alberto Dines a Otávio Frias Filho
**Link da carta publicada no jornal revelando a indignação de Fábio Comparato e Maria Benevides