Desert Point na maré seca "do jeito que o diabo gosta"
Quando fui pra Indonésia em 2002 tinha dois meses para conhecer as mais de 13 mil ilhas do arquipélago e obviamente tive que escolher entre algumas. E pra isso levei em conta o potencial do pico (ou da ilha) e os gastos que eu teria lá. Logo que cheguei, um flat (nos dias "flat" você surfa Bingin e Uluwatu com um metro bom) tomou conta de Bali.
Com dinheiro no bolso e o reforço de boatos que diziam: "Quando Bali tem um metro, G-Land tem 1,5 no mínimo!" Logo rumei para um dos meus destinos mais caros e temidos. É uma mistura de medo e curiosidade onde aquele paraíso de ondas perfeitas pode facilmente virar um pesadelo com você todo rasgado sendo costurado por um balinês com um cigarro na boca. Mas me virei bem e tive sorte, pois assim que cheguei na ilha de Jakarta os boatos se confirmaram e o mar, com séries espaçadas de 5 a 6 pés me deu um suculento cartão de visitas.
Seria difícil não relatar um cara que teve a cabeça literalmente escalpelado pela bancada de Grajagan num dia que as ondas ultrapassavam os 3 metros. Ganhou 250 pontos e um vôo direto pra Austrália. Eu? Fiquei do bangalô tomando uma Bintang quente e olhando. Apenas olhando. Ah, e os ratos do mato, que mais pareciam cachorros (de tão grandes) e andavam pela parede de palha dos bangalôs a noite para roubar nossa comida.
Assim que a grana acabou rumei para uma das ilhas que possui a hospedagem e comida mais baratos, Sumbawa. Além disso, não havia necessidade de carro para se locomover e pegar diferentes ondas. Lakey Peak, Lakey Pipe, Periscopes e Nungas foram algumas das bancadas que eu desfrutei.
Nas duas barcas tive que fazer opções, ou iria pra G-Land (com a certeza de pegar ondas de verdade e de repente nem cair, o que acabou acontecendo em dois dos 7 dias que fiquei lá) ou esperaria um swell pra pegar Desert Point, outro alvo da minha trip e de 9 entre 10 surfistas que vão a Indo. Acabei optando por Grajagan. Quando fui pra Sumbawa, uma foto de Scar Reef não parava de vir na minha memória. Apesar de estarem na mesma ilha, existe toda uma logística para se chegar no lugar onde quebra Scar. Mas tive que escolher entre ter a minha disposição vários picos ou esperar um swell em Scar Reef, pegar as ondas da vida e saciar minha memória que insistia lançar flash's dessa bendita onda.
E toda vez que vejo fotos e filmagens, tanto de Desert quanto de Scar Reef, sinto que fiz as escolhas certas. Decisões e escolhas banais de um surfista. Simples assim.
Scar Reef "desfilando"