terça-feira, novembro 23, 2010

Ilegal de Propósito

Por Alexandre Matias 
Exatamente no mesmo dia em que os Beatles colocavam seu catálogo online à venda, o DJ e produtor norte-americano Greg Gillis surgia com um novo disco prontinho para download. E, diferentemente dos discos de John, Paul, George e Ringo, All Day não custa nada para ser baixado – embora o ouvinte seja convidado a contribuir com o lançamento pagando a quantia que achar justa, mesmo que ela seja zero.

O novo disco do produtor, mais conhecido pela alcunha de Girl Talk, segue exatamente o mesmo padrão dos dois trabalhos anteriores, Night Ripper (2006) e Feed the Animals (2008): ele está para download no álbum de sua gravadora (chamada Illegal Art) de forma gratuita mesmo que nenhum dos envolvidos tenha direito sobre as músicas usadas para a composição do álbum. Explico: em vez de gravado, All Day – como os outros discos do Girl Talk – é composto apenas usando trechos de músicas alheias, grande parte delas hits de artistas consagrados.

Justamente por isso ele se tornou uma espécie de símbolo da cultura livre que ajuda a reinventar os conceitos de direitos autorais na era digital. O DJ foi um dos principais personagens do documentário Good Copy Bad Copy e sua entrevista era pontuada por observações do advogado Lawrence Lessig, criador da licença alternativa Creative Commons, que tratava Gillis como exemplo de um artista do século 21 que, se fosse atuar pelas leis do século 20, não conseguiria fazer música. Talvez por isso consiga lançar seus discos sem se preocupar com processos da indústria fonográfica. A menor menção a uma ação judicial contra ele já seria o suficiente para acionar advogados e ativistas da cultura livre e transformá-lo em mártir desta nova realidade. Enquanto isso, ele segue lançando seus discos – e fazendo shows inacreditáveis, apenas com seu laptop.