terça-feira, maio 03, 2011

Encarar ou não o triângulo amoroso*



No programa “Saia Justa” de amanhã, quarta-feira, 22h (canal GNT), no meu eterno papel de Miss Corações Solitários, respondo a uma telespectadora aflita que pergunta se deve encarar a clássica fantasia do macho: transar a três, com outra mulher no pedaço, óbvio.

Dificilmente os marmanjos encaram o contrário, a saltitante presença de outro varão na sua praia, como vemos no filme Jules & Jim, aí na fotinha na cumeeira dessa crônica.

A telespectadora tem 28 anos e está casada há dez com o dito-cujo. Confessa que ficou curiosa, mas teme que seja cedo demais para atender ao desejo do consorte. Ah, se ele precisa de outra para esquentar os serviços caseiros agora, já já não servirei mais para nada –é o que reflete a consulente na sua cartinha aflita.

Bate sempre uma insegurança nessas operações fantasiosas de casal. Muitas vezes o lado obscuro do monstro do ciúme aflora, mesmo em quem propôs o encontro, e vira um desastre. Seja a três ou a milenar prática da troca de casais, o medieval swing.

Não há receita, meu rapaz, não há fórmula milagrosa, minha rapariga. Uma boa solução é ficar apenas na narrativa de alcova, delirando com boas histórias orais a dois, sem necessariamente carecer da presença do(a) intruso(a). Funciona. Como bradavam os revolucionários franceses -né, seu Godard?-, viva a imaginação.

Ou, como na verve da poesia marginal dos anos 1970: no triângulo amoroso, o círculo é vicioso.   

Já vi mulher perdendo namorado ou marido, já vi homem perdendo a digníssima e também conheço casais que esquentaram bravamente e salvaram a relação com essas brincadeiras. Repito: não tem receita, embora uma mente aberta sempre ajude -curtiram a pegada bem de auto-ajuda?.

O fato é que é uma das questões mais postas na roda por homens e mulheres que escrevem para consultórios sentimentais ou serviços de aconselhamentos, como a seção que citei do programa e outros balcões de grilos amorosos que participei.

Lembro que Miss Corações Solitários (o nome é tirado de um personagem de romance do Nathanael West), no auge, no meu antigo site O Carapuceiro, recebia pelo menos dez mensagens por semana com a questão do triângulo, da sinuca da ménage, da caliente proposta.

Em um consultório de amor e sacanagem para a versão on line da revista Trip, em um universo bem mais jovem, a mesma curiosidade batia à porta todos os dias: três é demais?  A amiga Nina Lemos, que escrevia a divertidíssima seção comigo, que o diga.

Enfim, um espectro erótico ronda a cabeça dos casais, como diz meu último amigo comunista. E aí, vai encarar?    
*Escrito por Xico Sá �s 12h48