segunda-feira, junho 24, 2013

Lembrarei de ti Martina

Lembrarei de ti. 
Depois de ler um bom livro, depois de ver um bom filme. 
Depois de um belo porre. 
Não lembrarei de ti na ressaca. Mas sim quando falarem do Ressaca, antigo bar ali na Beira Mar Norte que tu adoravas. 
Lembrarei de ti toda vez que o Palito iniciar o tradicional discurso de Natal. 
Toda vez que passar na frente do antigo Ponto Chic ou falarem do eterno amigo Alcides Ferreira, o "Senador"
Estarás comigo quando eu estiver jogando dominó ou reclamando de forma rabugenta de alguma frívolidade. 
E também quando alguém cantar Pigalle ou afirmar de forma pausada e confusa "tá tzudu bem!".
Lembrarei de ti quando ouvir a frase "Florianópolis Vale a Pena".
Lembrarei de ti quando passar em frente a antiga sorveteria Gelamba na Av. Hercílio Luz. E também quando falarem de um movimento modernista chamado Grupo Sul
E toda vez que eu degustar de um bom whisky papeando sobre o cinema e outras artes. 
Lembrarei de ti toda vez que alguém citar o Café Matisse, lugar onde tu costumeiramente passava antes e depois dos filmes em exibição na tua sala preferida.
Toda vez que eu assistir "O Poderoso Chefão" lembrarei do dia em que eu conheci o cinema de verdade e assistimos juntos o primeiro e melhor filme da trilogia do Coppola.
Lembrarei de ti sempre que eu passar em frente ao clube Doze de Coqueiros ou ver um bilhete de loteria. 
Lembrarei de ti toda vez que eu falar sozinho gesticulando com as mãos (esse espólio eu herdei) ou quando a Aninha dizer espontaneamente: "Ele tem os pés igual do Avô dele!"
Lembrarei de ti toda vez que o meu pai estiver sentado ocupando o teu cantinho ali na varanda, que tu só deixava depois da Vó ligar inúmeras vezes.
Lembrarei de ti toda vez que o Fernando Barboza me chamar carinhosamente de Martina.
Lembrarei de ti toda vez que algum amigo dormir dentro do carro em frente a "balada" após beber umas e outras e esquecer de avisar os interessados (la famiglia).
Lembrarei de ti toda vez que alguém lembrar as riquezas inestimáveis que deixaste a essa família. Riquezas essas atemporais, imunes ao tempo. Fazer cinema em meados dos anos 50 neste pedacinho de terra é pra quem segue o seu coração. Eu vou continuar seguindo o meu. Se encontramos lá Vô. Te amo.
José Hamilton Martinelli recebendo das mãos do amigo e também jornalista Sérgio da Costa Ramos o Troféu Manézinho da Ilha em plena Felipe Schmidt, 1987. A iniciativa do prêmio liderada por outro colega de profissão Aldírio Simões buscava valorizar a cultura ilhéu e as personalidades da cidade.