De como um cara vitorioso é capaz de transformar cada nova vitória em mais rancor e bastante azedume
INCRÍVEL DUNGA. Mesmo!
O cara calou os críticos, vingou-se dos traíras, deu-se conta de que perdeu a conta de há quanto tempo não sabe o que é perder um jogo e só nos conta histórias de ressentimento.
E não briga mais apenas com os jornalistas. Briga também com o torcedor, como no patético espetáculo que deu no Pituaçu, ao precisar ser contido pelo bom samaritano Jorginho, pelo amoroso professor Paixão e até pelo único assessor de imprensa do mundo que senta no banco de reservas, o desfrutável Rodrigo Paiva, amigo de 11 em cada 10 estrelas do mundo nacional.
Mas que fique tranquilo aquele torcedor que foi alvo de tanta bílis. A raiva não era dirigida a ele, mas sim a Renato Maurício Prado, a Fernando Calazans, a José Trajano, ao PVC, ao Paulo Roberto Falcão, ao Mário Jorge Guimarães, quem sabe até ao doce Tostão, a mim, a tantos que o criticaram, criticam e criticarão.
Mas é também a todos os Galvões Buenos, que só remam a favor da maré e que de Dunga, aí com toda a razão, mais merecem desprezo do que raiva, porque traiçoeiros ontem e bajuladores hoje.
Fora, é claro, os provincianos que das províncias defendem seus conterrâneos pelo simples fato de serem conterrâneos, mas estes, é claro, não contam.
Certo está o jornalista Marcelo Barreto, que cunhou uma frase brilhante: "Bellini inventou o gesto de levantar a taça. Carlos Alberto inventou o gesto de beijar a taça. E Dunga inventou o gesto de xingar a taça". Genial!
Porque Dunga é isso em estado puro, autêntico.
É capaz de xingar quando recebe a taça de campeão mundial ou de dar cabeçada num companheiro como deu em Bebeto na Copa de 1998, ou de ficar amuado e mudo porque contrariado mesmo com a tarja de capitão em jogo da mesma Copa.
Dunga é capaz de tudo.
Até de se transformar em um bom técnico, que montou um time à sua imagem e semelhança e que divide com ele os triunfos, sempre usando a primeira pessoa do plural nas vitórias, mas a do singular nas derrotas, raras, quase esquecidas e, no caso, desimportantes, porque importantes foram as conquistas da Copa América, da Copa das Confederações e da vaga na Copa do Mundo com inédita antecedência.
Nunca dantes neste país -cujo presidente até outro dia mesmo exaltava o espírito dos argentinos, para a impaciência de Dunga e do supergoleiro Júlio César, que mandou Lula se mudar para Argentina- um técnico levantou uma seleção em tão pouco tempo, capaz de fazer até com que se ouçam rojões em seus gols na severa, e desgraçada por quaisquer chuvas, cidade de São Paulo. Nunca!
Mas o populismo lulista é como o galvanista, estar sempre próximo de quem esteja ganhando.
Dunga, ao menos, disse, em sua última entrevista coletiva, que estava feliz, muito feliz.
E, ao dizer, mostrou os caninos, prontos para cravar na jugular de quem esboçasse um ar de incredulidade diante daquela manifestação de alegria tão belicosa, na qual só faltaram murros na mesa: "EU ESTOU FELIZ, PORRA!".
Incrível Dunga.
*Texto escrito por Juca Kfouri