Martinelli, Um olhar sobre SC*
Estava finalizando um programa do Canal Memória para a TVUFSC sobre José Hamilton Martinelli e fui surpreendido com a notícia do seu falecimento. Anos atrás gravei uma entrevista no cinema do CIC com Martinelli e Armando Carreirão. Este material serviu de base para um documentário da neta do Carreirão, Luiza, o qual foi exibido pela RBS TV. Hoje estou garimpando os trechos do Martina, de quem era amigo e admirador, com tristeza. Lembrando dos bons papos que travamos no Bar do CIC. Martinelli foi um pioneiro do cinema, participou do primeiro filme de longa-metragem catarinense “O Preço da Ilusão”, realizado pelo Grupo Sul em 1957. Amigo de meu pai, Aníbal, e de Salim Miguel. Martinelli deu continuidade a atividade audiovisual sendo cinegrafista primeiro da Sul Cine Produções que se seguiu pela Produções Carreirão, tendo como roteirista Salim Miguel, as produtoras pertenciam a Armando Carreirão. Entre doses de uísque Martinelli me contava da grande aventura que era ser o cinegrafista de quase 200 cine-jornais por Santa Catarina, seguindo sobretudo o governador Heriberto Hulse por todos os municípios e passando por estradas empoeiradas de barro. Martinelli tinha consciência que fazia uma história oficial. Mas no meio de tantas imagens pagas sobravam algumas que ele e o Carreirão optavam em filmar sem o compromisso de um mecenas patrocinador. Assisti com ele e Carreirão o que sobrou dos cine-jornais no Cinema do CIC, na época do Gilberto Gerlach. Vimos o crescimento da cidade, a construção da estrada na serra do Rio de Rastro, a construção da UFSC e acabei sentindo a emoção nos olhos embaçados do meu amigo. Hoje, sabemos que todo esse acervo ainda que contaminado pelo oficialidade é de imenso valor. Como diz o diretor Sylvio Back, “ Com o passar dos anos suas imagens perderam a pertinência ideológica, mas não a histórica. O tempo as desmobilizou criticamente. Desse utilitário cinema, resta um inestimável retrato do país”. Espero que o programa que dirijo na TV UFSC possa transmitir um pouco do que eu aprendi com José Hamílton Martinelli. Martina onde quer que tu estejas que continues iluminando as telas do nosso cinema.
*Zeca Nunes Pires, é cinéfilo e cineasta. Com graduação em Jornalismo (UFSC) e em Administração (ESAG/UDESC), Mestrado em História (UFSC), Zeca tem vários curtas e documentários premiados e dois longas-metragens: Procuradas (2004) , co-dirigido por José Frazão e A Antropóloga (2010). É um dos criadores da Cinema Catarinense, FUNCINE, Curso de Cinema da UNISUL. (Via Acontecendo Aqui)
